segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Um novo Hino Nacional?

Recentemente foi divulgada no YouTube uma desastrada apresentação do Hino Nacional feita pela cantora Vanusa na Assembleia Legislativa de São Paulo. A cantora justificou seu desempenho pífio dizendo que havia tomado remédios, que não sabia a letra do Hino e que utilizava um óculos que não era seu.

Até aí, poderíamos ficar com pena da artista, que teria sido vítima de diversos fatores que fugiram de seu controle. No entanto, o que mais me decepcionou foi que ontem, em um programa televisivo, no qual teve a chance de se redimir, ela simplesmente culpou o próprio Hino Nacional pelo seu péssimo desempenho: "O convite foi feito um dia antes e eu não sabia a letra do Hino inteira. Já foi comprovado que ninguém sabe cantá-lo, pois a letra é muito longa. Aliás, teria que se fazer outro Hino, porque deitado em berço esplêndido o Brasil não está." (O fuxico)


O mais espantoso é que isso tenha sido dito por uma artista. Que espécie de facilitação é esta? O Hino Nacional deve ser usado para alfabetização? Ou será que deve se assemelhar à letra de Velocidade 6 da Mulher Melancia, a qual, na época em que a música foi lançada, explicou como foi sua composição: “Fizemos tudo bem rápido, é uma letra fácil para poder bombar logo” (O Dia Online)?

Na linha dessa declaração desastrada de Vanusa, tão desastrada quanto sua apresentação do Hino, deveríamos pedir para alguém reescrever os versos d'Os Lusíadas (tão numerosos e tão difíceis) ou ainda os versos da Canção do Exílio de Gonçalves Dias que comparecem no Hino Nacional.

Esta facilitação solicitada pela cantora fez-me lembrar do romance inglês 1984 de George Orwell: para controlar a população, o IngSoc (Socialismo Inglês) cria uma língua nova, a Novilíngua, que reduz ao máximo a capacidade de pensamento e de expressão. Para isso, o vocabulário da Novilíngua é extremamente diminuto e facilitado. Abaixo, reproduzo trechos do apêndice do livro, que explica o que seria a Novilíngua:

"Seu vocabulário fora construído de modo a fornecer a expressão exata - e frequentemente de um modo sutil - a cada significado que um membro do Partido quisesse expressar, excluindo todos os outros significados, bem como a possibilidade de chegar a eles por métodos indiretos."

"A finalidade da Novilíngua não era aumentar, mas diminuir a extensão do pensamento, finalidade que poderia ser atingida pela redução do número de palavras ao mínimo."

Para concluir, uma fala profética de Syme, um personagem do livro:

"Por volta de 2050, ou talvez mais cedo, todo verdadeiro conhecimento da Anticlíngua terá desaparecido. A literatura do passado terá sido destruída, inteirinha. Chaucer, Shakespeare, Milton, Byron... só existirão em versões Novilíngua, não apenas transformados em algo diferente, como transformados em obras contraditórias do que eram".


Referência Bibliográfica

ORWELL, George. 1984. Trad. Wilson Velloso. 29. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário