domingo, 15 de novembro de 2009

Eu falo, (você fala), ele fala...


Aula de português
Carlos Drummond de Andrade


A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.

A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
O amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.

O português são dois; o outro, mistério.

(Aula de Português, in Boitempo II, Editora Record. RJ)

Parece que em todas as situações encontramos um poema de Drummond que traduz exatamente o que queremos expressar. Podemos imaginar que estes versos do poema Aula de Português bem representam as angústias de nossos alunos nas aulas de Língua Portuguesa. Não só deles como dos professores, pelo menos daqueles que se inquietam diante da dificuldade de ensino-aprendizagem de nossa língua materna.

Como lidar com esta incongruência entre a lingua falada, que está na "ponta da língua" de todo aluno, e a "misteriosa" norma culta, tão difícil de entender e tão distante como as estrelas do céu? O que é ensinar Língua Portuguesa para quem já é falante desta língua? A língua do aluno não é tão língua como a norma culta? Se o aluno já sabe falar sua língua, é necessário estudá-la? E as aulas de Língua Portuguesa servem só para se ensinar-aprender a norma culta?

Estas são apenas algumas das muitas questões que me inquietam todos os dias. E apesar de muito já ter lido e continuar lendo sobre elas, ainda não encontrei respostas satisfatórias. É necessário um esforço interdisiciplinar por parte de pesquisadores e professores para se encontrar um novo caminho no ensino da Língua Portuguesa, pois o problema não é apenas metodológico ou pedagógico, é, antes de tudo, social.

Nenhum comentário:

Postar um comentário